Na página 14, li um parágrafo que valeu cada centavo gasto no livro.
Não existe meio de verificar qual é a decisão acertada, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida é a própria vida? É isso que leva a vida a parecer sempre um esboço. No entanto, nem mesmo esboço é a palavra certa, pois um esboço é sempre o projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que a vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro.
Uma coisa interessante sobre esse livro é que o autor afirma em um capítulo que os personagens são apenas personagens, sem existência própria, nascidos não de um ventre materno, mas sim de algumas palavras ou situações-chave. Como exemplo, cita Tomas, o protagonista, que nasceu da expressão alemã einmal ist keinmal que significa uma vez é nunca.
A princípio isso pode parecer um detalhe banal, mas funciona como uma quebra da quarta parede, bem parecido com o recurso usado por Woody Allen em Whatever Works, quando Boris Yellnikoff, vivido magistralmente por Larry David, fala diretamente para a câmera, explicando alguns de seus pontos de vista.
Um excelente livro, que estou a um terço do fim e já lamentando.
A vida de um leitor em série é mesmo complicada. Se o livro é meia-boca, sofremos para acabar. E se é ótimo, sofremos porque acabou.
E tome ressaca literária.
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