sábado, 23 de novembro de 2013

De que cor a noiva estava?

Ah, as adaptações. Desde que o mundo é mundo (mentira, desde que inventaram o cinema e viram que era mais fácil usar literatura pronta do que criar roteiros originais) vivemos brigando por causa da merda que virou o nosso livro favorito ao ser transposto para a tela.

O Grande Gatsby. Um bom livro, que alguns acham incomparável, mas pra filme definitivamente não presta. Ganhou versões em 1949, 1974 e 2013, todas mais sofridas que a Zelda acordando cedo, fora uma versão para a TV em 2000 com a Mira 'Poderosa Afrodite' Sorvino, que também ficou devendo.

Para ter uma noção, olha o que Christopher Orr disse em sua crítica ao filme de 2013.
The central problem with Luhrmann's film is that when it's entertaining it's not Gatsby, and when it's Gatsby it's not entertaining.

Peter Jackson para adaptar livros é a equanimidade encarnada. Conseguiu que mais de mil de páginas coubessem em 3 filmes e um livro de pouco mais de 300 páginas também coubessem em 3 filmes, o primeiro com quase 3 horas. Um Steve Jobs do cinema, cujas sagradas obras não podem ser criticadas e com fanboys tão sanguinários quanto. Veja um exemplo de fãs comentando aqui.

Já o poderoso Kubrick cagou o Iluminado (segundo Stephen King), destruiu Laranja Mecânica (segundo Anthony Burgess), Lolita (não, Lolita não... ele chamou o Vladimir Nabokov -- que escreveu o livro E ganhou o Nobel de Literatura -- para roteirizar e ninguém encher o saco).

Também tem ótimos casos, as do Kubrick por exemplo, às quais podemos juntar O Falcão Maltês (1941) e O Homem Sombra (1934), de Dashiell Hammett, A Beira do Abismo (1946) de Raymond Chandler e Yentl, um conto bem modesto de Isaac Bashevis Singer que virou um drama musical muito bom nas mãos da Barbra Streisand.

Tem as adaptações honestas, que não maravilham ninguém mas não ferram com o livro. Dessas tem a Trilogia Millennium, com a Noomi Rapace e o Michael Nykvist (esqueçam o Daniel Craig) e As I Lay Dying do James Franco, que embora a crítica tenha descido a madeira, eu gostei bastante, talvez por ter assistido com menos expectativa e ter um scotch acompanhando.

Temos todas esses tipos de adaptações e temos La mariée était in noir, do Truffaut. O que é aquilo? O livro maneiro de William Irish aka George Hopley aka Cornell Woolrich The Bride Wore Black virou um mingau nas mãos do francês.

Jeanne Moreau, ótima em Ascenseur pour l'echafaud, ficou terrível nesse filme. Parecia que era ela a ir ao cadafalso ou então que o cachê ia ser gasto todo pelo marido em bebidas, corridas de cavalos ou putas feias.

Linda


Não tinha maquiagem que cobrisse o desânimo. O filme não tem ritmo, é chato, a crítica da época desceu a madeira, o Truffaut admitiu que ficou ruim, jogou um pouco da culpa no diretor de fotografia. Enfim, um desastre que só não foi total porque o filme deu dinheiro, com um orçamento de US$747.000,00 e um faturamento de US$2.000.000,00. Mas ainda assim o filme é horrível.

O que posso dizer?


E falar que Truffaut não sabia adaptar não é justo. Ele adaptou Fahrenheit 451 e ficou ótimo, mesmo com a falta de efeitos especiais e a briga com Oskar Werner. Waltz into Darkness também do Woolrich, virou o excelente La Sirène du Mississipi, com Jean Paul Belmondo e Catherine Deneuve, ótima como sempre.


Um comentário:

Keren Monteiro disse...

Mais uma vez esculachando as adptações... kkkkkk

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