O filme Luz de Inverno (Nattvardsgästerna), 2º filme da trilogia do Silêncio, de Ingmar Bergman, narra um breve momento. entre o fim de uma missa e o início de outra, onde várias vidas são afetadas dramaticamente.
Dividido em 3 atos, ele mostra toda a crise existencial do pastor Tomas (Gunnar Bjornstrand), que após a perda da mulher e da fé, continua prestando os serviços religiosos, com uma frieza que parece injustificada à primeira vista.
Ele se contorce sob o peso de toda a fragilidade humana, numa crise existencial que parece durar há anos, sendo forçado a dar conselhos sobre os assuntos que são suas maiores dúvidas.
O sofrimento é incompreensível, então não necessita de explicação.
O filme é seco, direto, sem trilha sonora, com diversas cenas em que o som é apenas representado pelo tic-tac do relógio ou os passos de alguém ecoando pela sala. Não há malabarismos de câmera, apenas a iluminação e a fotografia magnífica de Sven Nykvist que consegue passar a claustrofobia e a opressão causada pelo longo inverno sueco.
Há uma sequencia excelente, de cerca de oito minutos, com pouquíssimos cortes, em que Märta (Ingrid Thulin) lê a carta que mandou a Thomas. A câmera fixa na frente da atriz e mais nada.
Outro momento marcante é a conversa com o sacristão, que defende a ideia de que o sofrimento físico de Jesus não foi o maior de seus problemas,
Não há muitas falas no filme, dando tempo de analisar à vontade os acontecimentos e compreender a dor de seus personagens, seja pela perda do sentido da vida, pelo medo insensato por algo que pode simplesmente ão acontecer ou pela incapacidade de conquistar o ser amado.
Se pelo menos tivéssemos uma verdade para acreditar.
Não há alívio para os personagens. Eles se revoltam em vão contra suas dores e questionamentos que não tem data para cessar.
Um filme excelente, recomendadíssimo, desde que o leitor já tenha algumas obras de Bergman na bagagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário