sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Zé Lins
Criador de personagens memoráveis como Carlos de Melo, José Paulino, Coronel Lula de Holanda, Capitão Vitorino (considerado por muitos o mais bem construído personagem da literatura brasileira), José Amaro, Bentão do Araticum, o moleque Ricardo e muitos outros, José Lins do Rego é um dos ases do regionalismo brasileiro.
Gosto de considerá-lo como o nosso Faulkner tupiniquim, pelos diversos paralelos entre as duas obras.
Ambos são regionalistas, se limitando, na maioria de suas obras, a descrever um universo fechado e coeso, como o são o condado de Yoknapatawpha e os engenhos do sertão paraibano. Seu assunto mais comum é a história do povo oprimido e simples, de José Amaro e de Anse Bundren e dos grandes famílias tradicionais arruinadas, como foram os Compsons, e também os de Holanda. Temos até Zé Marreira, um arrivista, que muito bem poderia ser comparado a Flem Snopes, com suas dissimulações e negociatas.
Estilisticamente, a história é outra. Embora o uso de monólogo interior tenha uma forte presença na obra de Lins do Rego, o fluxo de consciência não é utilizado, sem comparação alguma a labiríntica técnica dominada com maestria por Faulkner. Não procure por algo parecido com Absalão, Absalão ou O Som e a Fúria. O que Zé Lins chega mais próximo é na não-técnica utilizada em O Santuário ou Os Desgarrados.
Faulkner é um prato meio indigesto para os desavisados, devendo ser lido aos poucos, e preferencialmente de forma não cronológica. Poucos se sentiriam confortáveis lendo Paga de Soldado, Mosquitos, Sartoris e do nada >KABLAM< lhe cai o Som e a Fúria na cabeça.
Já Zé Lins é tranquilo, não exige nada pra que o acompanhemos. Só não podemos ficar escandalizadinhos ao ver os moleques da bagaceira em vez do xvideos usarem as vacas e cabritas do engenho para se iniciarem sexualmente. Zoofilia já não tem com o velho Bill, pode ler tranquilo, só tem um caso meio bizarro com um sabugo de milho, mas essa é outra história.
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