quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Citação: Milan Kundera

Em dois episódios de insônia durante o carnaval, devorei dois terços do ótimo 'A Insustentável Leveza do Ser', de Milan Kundera.

Na página 14, li um parágrafo que valeu cada centavo gasto no livro.

Não existe meio de verificar qual é a decisão acertada, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida é a própria vida? É isso que leva a vida a parecer sempre um esboço. No entanto, nem mesmo esboço é a palavra certa, pois um esboço é sempre o projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que a vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro.

Uma coisa interessante sobre esse livro é que o autor afirma em um capítulo que os personagens são apenas personagens, sem existência própria, nascidos não de um ventre materno, mas sim de algumas palavras ou situações-chave. Como exemplo, cita Tomas, o protagonista, que nasceu da expressão alemã einmal ist keinmal que significa uma vez é nunca.

A princípio isso pode parecer um detalhe banal, mas funciona como uma quebra da quarta parede, bem parecido com o recurso usado por Woody Allen em Whatever Works, quando Boris Yellnikoff, vivido magistralmente por Larry David, fala diretamente para a câmera, explicando alguns de seus pontos de vista.

Um excelente livro, que estou a um terço do fim e já lamentando.

A vida de um leitor em série é mesmo complicada. Se o livro é meia-boca, sofremos para acabar. E se é ótimo, sofremos porque acabou.
E tome ressaca literária.

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