sábado, 28 de dezembro de 2013

Buk, seu velho safado

Bukowski. Romancista ultra-realista. Pau-d'água de dimensões intergaláticas. Putanheiro. Vagabundo assumido. Cínico. Poeta. E sensacional também.

Ele tinha umas tiradas muito bonitinhas:

Não, eu não odeio as pessoas. Só me sinto melhor quando elas não estão por perto.

Às vezes, me sinto como se estivéssemos todos presos num filme. Sabemos nossas falas, onde caminhar, como atuar, só que não há uma câmera. No entanto, não conseguimos sair do filme. E é um filme ruim.

Eu desisti de procurar a mulher dos sonhos. Eu só queria uma que não fosse um pesadelo.


E uma foto dele só pra dar uma noção.


Tinha mais uma dele, mas a mulher era tão graciosamente desgraçada de feia que eu achei melhor poupar vocês. Deixa pra próxima.

Sherlock e Watson em domínio público.

Os fãs de Sherlock e seu cachimbo podem comemorar (ou arrancar as unhas em desespero). Ele e Watson estão livres para aventuras sem que nenhum centavo precise ser pago ao espólio de Arthur Conan Doyle, devido à uma decisão judicial de Rubén Castillo, no estado de Illinois.

Tem uma coisa: Somente os elementos da história anteriores a 1923 podem ser usados livremente. Alusões ao fato de Watson ter jogado rugby pelo Blackheath ou de ele ter uma segunda esposa (a primeira já devia estar cheia daquela história dele sair no meio da noite ou então do nada resolver ir acampar no mato com o Sherlock no fim de semana. Os vizinhos já estavam comentando.) não podem ser utilizados, mas provavelmente serão todos liberados até em 1927, data da última publicação original.

Agora é só aguardar a enxurrada: Sherlock e a criatura de Devonshire (spoiler: é um alien). Os mortos-vivos de Highlands Hospital (spoiler: zumbis). Os gêmeos de Perth (Esse é bom, acontece na Escócia, mas não deve fazer tanto sucesso porque esse assunto de clones já está meio batido. Na década de 90 iria arrebentar).

Fonte: Arts Beat.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Citação: Trópico de Capricórnio

Poucos dias antes havia cinco ou seis vagas na hora de fechar. Agora havia trezentas, quatrocentas, quinhentas - estavam escapando como areia. Era maravilhoso. Eu ficava sentado lá e sem fazer uma pergunta os contratava às carradas - negros, judeus, paralíticos, aleijados, ex-presidiários, putas, maníacos, pervertidos, idiotas, qualquer bastardo fodido que pudesse ficar em pé sobre as duas pernas e segurar um telegrama na mão. Os gerentes dos cento e um escritórios quase morreram de susto. Eu ria. Ria o dia inteiro ao pensar que bela merda eu estava fazendo daquilo.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Viciado em livros, onde?


The movie is on the table

Livros são ótimos. Filmes (ótimos) idem. Então porque não juntar os dois?
Foi o que fiz. Comprei essa belezinha aqui, ó.

Só a capa já vale.
Esse sensacional livro (na realidade um grande livro, um livrão), conta a história do cinema através de seus melhores filmes.

Na capa tem Manhattan. E por dentro tem tudo.

Ele é dividido em períodos históricos e cada um deles é, por sua vez, subdividido em tópicos que detalham os principais momentos de cada período.

A ascensão dos talkies, os musicais, o filme noir, os clássicos do terror, a nouvelle vague, os filmes de aventura, os thrillers, o CGI e o 3D ganham artigos bem abrangentes e muito bem ilustrados por stills e posters.

Os principais filmes de cada movimento são analisados, com a ficha do diretor e uma sinopse.

Para quem gosta de cinema é um prato cheio.


Dúvida cruel (ou não)

Será que essa dúvida é válida? Pra mim não.



Embora ame o Cinema, queimaria toda a Hollywood antes de estragar um único livro assistindo à um filme ruim.

sábado, 23 de novembro de 2013

De que cor a noiva estava?

Ah, as adaptações. Desde que o mundo é mundo (mentira, desde que inventaram o cinema e viram que era mais fácil usar literatura pronta do que criar roteiros originais) vivemos brigando por causa da merda que virou o nosso livro favorito ao ser transposto para a tela.

O Grande Gatsby. Um bom livro, que alguns acham incomparável, mas pra filme definitivamente não presta. Ganhou versões em 1949, 1974 e 2013, todas mais sofridas que a Zelda acordando cedo, fora uma versão para a TV em 2000 com a Mira 'Poderosa Afrodite' Sorvino, que também ficou devendo.

Para ter uma noção, olha o que Christopher Orr disse em sua crítica ao filme de 2013.
The central problem with Luhrmann's film is that when it's entertaining it's not Gatsby, and when it's Gatsby it's not entertaining.

Peter Jackson para adaptar livros é a equanimidade encarnada. Conseguiu que mais de mil de páginas coubessem em 3 filmes e um livro de pouco mais de 300 páginas também coubessem em 3 filmes, o primeiro com quase 3 horas. Um Steve Jobs do cinema, cujas sagradas obras não podem ser criticadas e com fanboys tão sanguinários quanto. Veja um exemplo de fãs comentando aqui.

Já o poderoso Kubrick cagou o Iluminado (segundo Stephen King), destruiu Laranja Mecânica (segundo Anthony Burgess), Lolita (não, Lolita não... ele chamou o Vladimir Nabokov -- que escreveu o livro E ganhou o Nobel de Literatura -- para roteirizar e ninguém encher o saco).

Também tem ótimos casos, as do Kubrick por exemplo, às quais podemos juntar O Falcão Maltês (1941) e O Homem Sombra (1934), de Dashiell Hammett, A Beira do Abismo (1946) de Raymond Chandler e Yentl, um conto bem modesto de Isaac Bashevis Singer que virou um drama musical muito bom nas mãos da Barbra Streisand.

Tem as adaptações honestas, que não maravilham ninguém mas não ferram com o livro. Dessas tem a Trilogia Millennium, com a Noomi Rapace e o Michael Nykvist (esqueçam o Daniel Craig) e As I Lay Dying do James Franco, que embora a crítica tenha descido a madeira, eu gostei bastante, talvez por ter assistido com menos expectativa e ter um scotch acompanhando.

Temos todas esses tipos de adaptações e temos La mariée était in noir, do Truffaut. O que é aquilo? O livro maneiro de William Irish aka George Hopley aka Cornell Woolrich The Bride Wore Black virou um mingau nas mãos do francês.

Jeanne Moreau, ótima em Ascenseur pour l'echafaud, ficou terrível nesse filme. Parecia que era ela a ir ao cadafalso ou então que o cachê ia ser gasto todo pelo marido em bebidas, corridas de cavalos ou putas feias.

Linda


Não tinha maquiagem que cobrisse o desânimo. O filme não tem ritmo, é chato, a crítica da época desceu a madeira, o Truffaut admitiu que ficou ruim, jogou um pouco da culpa no diretor de fotografia. Enfim, um desastre que só não foi total porque o filme deu dinheiro, com um orçamento de US$747.000,00 e um faturamento de US$2.000.000,00. Mas ainda assim o filme é horrível.

O que posso dizer?


E falar que Truffaut não sabia adaptar não é justo. Ele adaptou Fahrenheit 451 e ficou ótimo, mesmo com a falta de efeitos especiais e a briga com Oskar Werner. Waltz into Darkness também do Woolrich, virou o excelente La Sirène du Mississipi, com Jean Paul Belmondo e Catherine Deneuve, ótima como sempre.


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Kundera, Dr. Havel e o traseiro da Beth

Milan Kundera deve ter sido mesmo um pândego. Isso fica bem evidente em uma descompostura passada pelo Dr. Havel de Risíveis Amores, coleção de contos, em sua (feia, mas cheia de mojo) enfermeira.

- Minha querida Elizabeth, não a compreendo. A cada dia feito por Deus, você fica remexendo feridas purulentas, dá injeções em bundas encarquilhadas de mulheres velhas, faz lavagens, esvazia bacias. O destino deu-lhe a oportunidade invejável de perceber a natureza carnal do homem em toda a sua vaidade metafísica. Mas sua vitalidade se recusa a ouvir esses argumentos. Nada pode abalar a sua vontade tenaz de ser um corpo, e apenas um corpo. Seus seios roçam nos homens a cinco metros de distância! Sinto vertigens só em ver você andar, por causa das eternas espirais desenhadas pelo seu infatigável traseiro! Que eu não a veja mais, finalmente. Seu seios são onipresentes como Deus! Você já está dez minutos atrasada para as injeções.

Não tirem conclusões precipitadas. O Dr. Havel é, como todo bom personagem kunderiano, mulherengo e cafajeste. O caso é que a tal Raimunda Elizabeth realmente o deixava doente, de tantos inanes oferecimentos.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Os cães ladram, mas o Capote não para

Li o excelente Os Cães Ladram, de Capote, que não é o de Gógol(tenho de parar com isso).

Nunca imaginei gostar tanto. São uma pilha de histórias divertidíssimas, em que ele narra os fatos mais diversos. Uma viagem de uma trupe teatral, a difícil convivência com um corvo chamado Lola, uma entrevista com Marlon Brando, um passeio de trem pela Espanha, suas aventuras em lugares tão diversos quanto o Brooklyn e Tânger e suas impressões sobre diversas personalidades. Humphrey Bogart, Ezra Loomis Pound e Louis Armstrong habitam cada um, algumas páginas desse excelente livro.

Tal como a orelha promete, lê-lo é como estar num bar, conversando com um velho conhecido, de modo que as horas passam e não notamos.

Dono de um fino senso de humor, Capote nos transporta de carona em seu imenso mundo(ele era viajado que chega a dar nojo). Tome um aperitivo:

[...] o peixe é sempre bom, e a pasta também. Dizem que é possível encontrar uma carne comestível; essa sorte eu nunca tive. Também não há muita escolha em matéria de verduras, e, no inverno, os ovos são raros. Mas, naturalmente, o nosso maior problema é que não sabemos cozinhar; e a nossa cozinheira, lamento dizê-lo, também não.
Aqueles cujos pálatos vinham prelibando caviar no gelo e botelhas resfriadas de vodca sentiram-se um tanto mortificados quando viram depor à sua frente iogurte e garrafas de soda de framboesa.
O prato seguinte, entretanto, consistia em rígidos pedaços de talharim, mergulhados, como troncos submersos, em um caldo aguado. Depois vieram costeletas de vitelas panadas, batatas cozidas e ervilhas que chocalhavam no prato como chumbo de caça; para regar tudo isso, houve provisões renovadas de soda de framboesa.
O Institut, com a sua brancura mosqueada e os seus lamentáveis equipamentos, assemelha-se a uma clínica de caridade supervisionada por enfermeiras não muito higiênicas, e o penteado que Madame recebe ali é bem possível que deixe o cabelo com uma textura excelente para arear frigideiras.

domingo, 20 de outubro de 2013

Que livro vamos comer hoje?

Que livros são alimento para a alma ninguém duvida. Mas a fotógrafa Dinah Fried(frita?) deu um passo à frente.

Fez diversas cenas de pratos baseadas em trechos de livros famosos, como O apanhador no campo de centeio, Moby Dick, Bonequinha de luxo, entre outros, reunidas no livro Fictitious Dishes, que não deve sair por aqui

O BuzzFeed fez um quiz com algumas das fotos. Teste seus conhecimentos de comida na literatura. Eu só acertei os que eu já tinha lido. Os chutes foram todos errados.

Veja aqui.

sábado, 19 de outubro de 2013

O bardo iídiche

Além de Faulkner, o meu criador de mundos favorito é Isaac Bashevis Singer. Da pobreza degradante dos gélidos guetos de Varsóvia à sofisticação impessoal das ruas de Nova York, temos suas maravilhosas histórias, que tratam do cotidiano judaico, suas dores e alegrias.


Entremeados em seus contos e romances, existe a dúvida entre os payess e a assimilação, o polonês e o iídiche, a piedade e a apostasia.

Dybbuks existem? E o outro mundo? Deus deu aos justos a vida eterna ou uma vida longa e próspera? Ou nenhum dos dois, já que os canalhas também enriquecem e morrem com cabelos brancos?

E a vida, como a gastaremos? Em meditação e estudo da Tora ou em convívio social. Quase nunca os personagens de Singer vivem no meio-termo. Quando o fazem, são assaltados por suas eternas dúvidas.

Lendo Singer, descobri que tenho um vizinho que é um verdadeiro schlemiel, que não se faz bolsa de seda com orelha de porco, e que aquele cara que parecia legal é um grande schmuck.


A rua Krochmalna, pulsante de vida, habita em muitas de suas obras. Max Barabander, Aaron Greidinger, Shosha, até o próprio Singer e sua família, nos romances autobiográficos passam muitas de suas páginas por ali, sofrendo ou sendo felizes na velha Varsóvia.

Sua obra é magnífica, e fica bem em qualquer estante.

Lidos e recomendados:
  • Shosha (o melhor, na minha opinião)
  • Breve Sexta-Feira
  • Obsessões e Outras Histórias
  • O Solar e a Propriedade

domingo, 13 de outubro de 2013

Você conhece Christiane Felscherinow?

Se você está na casa dos 30 ou mais, provavelmente sim.

Ela foi muito conhecida no Brasil na década de 80, devido ao sucesso de sua chocante biografia.


Lembrou?

Na época, o livro causou furor, pelo menos entre os meus conhecidos (Não tínhamos internet, então os trending topics eram escola, bairro e casa da avó. Uma barra.), tinha mãe que jogava o livro fora quando a filha chegava com ele em casa, uma menina da minha sala teve o livro confiscado pela freira (alemã) supervisora da escola.

Aos 51 anos, ela lançou na feira de Frankfurt uma nova autobiografia, Mein zweites Leben, contando o que aconteceu após toda aquele fama na adolescência, quando ela foi a dependente química mais conhecida da Alemanha e virou até personagem principal de filme.

Recaída, abstinência, aventuras com famosos, uma passagem pela prisão e o nascimento de seu filho, são narrados de forma impiedosa por essa sobrevivente.


sábado, 5 de outubro de 2013

Escuridão de inverno

Hoje não tem livro, mas um filme que alimentaria muitos livros.

O filme Luz de Inverno (Nattvardsgästerna), 2º filme da trilogia do Silêncio, de Ingmar Bergman, narra um breve momento. entre o fim de uma missa e o início de outra, onde várias vidas são afetadas dramaticamente.

Dividido em 3 atos, ele mostra toda a crise existencial do pastor Tomas (Gunnar Bjornstrand), que após a perda da mulher e da fé, continua prestando os serviços religiosos, com uma frieza que parece injustificada à primeira vista.



Ele se contorce sob o peso de toda a fragilidade humana, numa crise existencial que parece durar há anos, sendo forçado a dar conselhos sobre os assuntos que são suas maiores dúvidas.

O sofrimento é incompreensível, então não necessita de explicação.

O filme é seco, direto, sem trilha sonora, com diversas cenas em que o som é apenas representado pelo tic-tac do relógio ou os passos de alguém ecoando pela sala. Não há malabarismos de câmera, apenas a iluminação e a fotografia magnífica de Sven Nykvist que consegue passar a claustrofobia e a opressão causada pelo longo inverno sueco.

Há uma sequencia excelente, de cerca de oito minutos, com pouquíssimos cortes, em que Märta (Ingrid Thulin) lê a carta que mandou a Thomas. A câmera fixa na frente da atriz e mais nada.

Outro momento marcante é a conversa com o sacristão, que defende a ideia de que o sofrimento físico de Jesus não foi o maior de seus problemas, 



Não há muitas falas no filme, dando tempo de analisar à vontade os acontecimentos e compreender a dor de seus personagens, seja pela perda do sentido da vida, pelo medo insensato por algo que pode simplesmente ão acontecer ou pela incapacidade de conquistar o ser amado.



Se pelo menos tivéssemos uma verdade para acreditar.

Não há alívio para os personagens. Eles se revoltam em vão contra suas dores e questionamentos que não tem data para cessar.

Um filme excelente, recomendadíssimo, desde que o leitor já tenha algumas obras de Bergman na bagagem.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Capote e o dinheiro

Capote, que é o Truman e não o de Gógol, autor de Breakfast at Tiffany's e A Sangue Frio, que ganhou vida nas telas pelo excelente Philip Seymour Hoffman (que também fez o adoravelmente desagradável Freddy Miles em The Talented Mr. Ripley) no filme Capote tem a frase definitiva sobre o dinheiro.

Dinheiro não tem a menor importância, desde que a gente tenha muito.

Simplesmente disse tudo, muito obrigado tchau e até a próxima.

sábado, 14 de setembro de 2013

Enquanto agonizo no cinema

Finalmente!
Depois de um tenebroso inverno, com o cinema lançando ad nauseam adaptações numeradas de livros juvenis e quadrinhos(nada contra, só não me chame para assistir) e do Grande Gatsby (haja gin-tônica para esquecer), aparece uma adaptação que eu quero realmente conferir.

Pois é, As I Lay Dying ou Enquanto Agonizo, romance que foi considerado por muitos impossível de filmar, devido à inovadora técnica narrativa de Faulkner(em 1930), usando 15 personagens narrando cada um dos 59 capítulos através de seu próprio ponto de vista. Meio que um Rashomon elevado à 4ª ou 5ª potência. (Só pra comparar, sem desmerecer em nada o filmaço do Kurosawa.) Engraçado foi alguns podcasts colocando essa característica que aparece no livro Game of Thrones como uma super novidade.

Para quem não leu, o livro conta a saga da família Bundren, um bando de rednecks do condado de Yoknapatawpha, cuja matriarca, Addie, está morta. Ela entrou numa de ser enterrada em Jefferson junto de seus parentes e Anse, seu devotado, preguiçoso e burro que dá nojo marido resolve atendê-la.

Nada demais, se abstrairmos do fato de que eles estão à muitas léguas de beiço de Jefferson, o calor dos diabos que faz no Mississipi e a carroça sem geladeira para levar a defunta. Ou seja, um potencial maravilhoso para dar merda.

E tem uma das frases mais infames da literatura moderna, por Vardaman Bundren:

Minha mãe é um peixe.

Se isso faltar no filme eu paro de ver na hora.

Não faço ideia da técnica cinematográfica de Franco para reproduzir o ambiente estranho desse livro. O que sei é que as locações são no Mississipi. Ainda bem, porque ver um filme de Faulkner em Oklahoma ia ser muito frustrante. Sai em 23 de novembro nas gringas. Aqui, sabe Deus.

E pra acabar, tem o trailer.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O Certificado

N'O Certificado, Singer nos brinda com mais uma de suas magníficas histórias sobre a vida judaica em Varsóvia no século passado.

Nessa novela, o atual alter-ego de Singer é David Bendiger, fracassado professor de hebraico em um vilarejo. Faminto, sem roupas decentes, tenta em vão achar um sentido para o absurdo da vida. Se ele tivesse lido Camus, o livro ia ter umas 10 páginas com ele se jogando no Vístula no final.

Desiludido com o judaísmo e o resto da existência, perambula tendo acordado os sonhos mais mirabolantes de poder, sorte e riqueza, enquanto tenta dar início à uma carreira de escritor.

Acaba se envolvendo com 3 mulheres, até que pouco para os padrões de Singer (acho que ele era um pegador dos infernos quando era jovem), já que em Shosha Greidinger se envolve com 5, incluindo uma shiksa.

Ao mesmo tempo, Bendiger consegue um casamento forjado(assim como Singer) para obter um certificado e ir para a Palestina.

Oprimido pela fome, pelo inverno da Polônia, por seus medos e delírios, por um quarto sem janelas, pelo esnobismo de sua noiva fictícia, por sua presumível falta de talento para fazer qualquer coisa inclusive escrever, David vive esse drama de erros onde pouco sai como o previsto e nada como o esperado.

Um livro meio sofrido, onde você vira as páginas meio de banda, se perguntando: "Puta merda, o que vai acontecer agora?".

Leonard Wolf, um dos tradutores da obra para a língua inglesa, disse que 'O Certificado' é uma das mais engraçadas obras de ficção longa de Singer. Com esse senso de humor, Vinhas da Ira e Berlim Alexanderplatz devem tê-lo matado de rir.


sábado, 10 de agosto de 2013

Policiais

O último mês foi uma festa policial. O Homem que via o Trem passar, do Georges "10.000" Simenon, Ripley Subterrâneo, da talentosa Highsmith, Continental Op, do etílico Hammett.


O Homem que via o Trem passar conta a história de Kees Popinga (Eu achei que era zueira, mas não, o nome é esse mesmo), um escriturário , muito diferente de Bartleby, que vê seu confortável mundinho ruir, ao saber que seu patrão irá fugir para o exterior, forjar a própria morte e falir a empresa.

Como Simenon prefere Paris, ele faz Kees fugir da Holanda e enfrentar o comissário Lucas(que parece ter assumido o cargo de Maigret na Quai des Orfèvres) em uma caçada humana pelas sarjetas parisienses.

O mais legal é que o editor diz, na contra-capa do livro que este é um livro não-policial.

Ripley Subterrâneo é o segundo da Riplíada, a saga do sociopata mais legal do mundo. Tom está sussa em uma vila no interior da França(que inveja) e tudo vai bem, obrigado. Mas...

Ele recebe uma ligação de Londres, e fica que sabendo que seu esquema da venda de quadros de Derwatt que morreu faz tempo, e misteriosamente pinta do além) ameaça entrar areia, agora que um cliente está vindo da América para por tudo em pratos limpos. É merda na certa.

Excelente livro, que li em menos de uma semana, puxando o freio de mão(os livros que gosto leio mais devagar, quando dá).

O último de hoje é o Continental Op, de Dashiell Hammett. O detetive mais casca-grossa do hard-boiled estrela 7 contos muito empolgantes. Op não fuma cachimbo, não cultiva begônias, não gosta de gatos, não analisa expressões corporais e se o investigado começar a encher o saco ele desce a porrada. Um mimo.

Seus contos devem ser lidos com um impermeável ou um avental de açougueiro usado, porque o sangue espirra longe. O último, Morte em Farewell, que foi filmado quase linha a linha em The Another Thin Man, com o Powell e a Loy no papel dos carismáticos Nick e Nora Charles.

Interessante foi que eu vi o filme uma semana antes de ler o conto e com três ou quatro parágrafos a cópia já estava autenticada e mais do que confirmada.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Frio, DFW e pilhas

Frio do cão. Vontade de abrir um dos livros do Chandler e arrancar de lá uma garrafa de rye para aquecer o frio e espantar o nada.
Pena que, do nada, lembrei que isso não funciona.

Esse daí de cima é meu mesmo. Nem parece. Ou então está na cara.

Uma pilhinha bem tsundokada repousa em minha estante:
  • O Certificado - Isaac Bashevis Singer.
  • The Portable Faulkner - William Faulkner (óbvio)
  • O Solar - Isaac Bashevis Singer
  • Ripley Subterrâneo
Pra ajudar, acabo de achar 'A Irmãzinha', do Chandler em promoção na Cultura, mas fica pra depois. O próximo livro a chegar por aqui deve ser um do DFW. Já estava querendo ler algo, mas depois que li isso...

Tem dois caras sentados juntos num bar numa região remota do Alaska. Um dos caras é religioso, o outro é ateu, e os dois estão discutindo sobre a existência de Deus com a intensidade especial que vem depois da quarta cerveja. E o ateu diz: “Olha, não é como se eu não tivesse razões verdadeiras pra não acreditar em Deus. Não é como se eu nunca tivesse experimentado essa coisa toda de Deus e oração. Mês passado uma nevasca terrível me pegou longe do acampamento, eu tava completamente perdido, e não conseguia ver nada, e tava 25 graus negativos, então eu tentei: eu caí de joelhos na neve e gritei ‘Ó Deus, se existir um Deus, eu tô perdido nessa nevasca, e eu vou morrer se você não me ajudar.’” E agora, no bar, o cara religioso olha pro ateu confuso. “Bem, então você deve acreditar agora”, diz ele. “Afinal, aqui está você, vivo.” O ateu rola os olhos. “Não, cara, o que aconteceu é que dois esquimós por acaso apareceram por lá e me mostraram o caminho do acampamento.”

Cinicamente sensacional. Não tem como não ler. Tradução de Luís Calil. Texto completo aqui.

Devo começar com Breves Entrevistas com Homens Hediondos, passando por 'Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo' (sim, o título é desse tamanho mesmo) e terminando em Infinite Jest, gracias a Caetano Galindo. No original, no way.

Mas antes disso, o meu psicosociopata favorito vai rodar.

sábado, 29 de junho de 2013

As paixões de Singer

De todos os livros que eu comprei no Rio, o que mais me empolgou e continua empolgando, já que nem terminei de ler, foi o Obsessões e Outras Histórias, do bom e velho Bashevis Singer.

Publicado originalmente com o título Passions and Others Stories, ele é um apanhado de contos (até agora, os melhores) de um dos melhores da arte. Entremeado de trechos (aparentemente, vai saber) autobiográficos e puro lirismo, sem cair na pieguice, Singer nos leva a um fantástico mundo de fantasmas, beleza, morte  e desilusão.

Suas histórias se passam desde a (às vezes nem tanto) moderna Nova York até a Varsóvia de antes da guerra, passando por Lisboa, pequenos shtetls no interior da Polônia e outros lugares não nomeados.

O destaque vai para o conto 'A admiradora', que poderia muito bem ser adaptado para um episódio de Curb Your Enthusiasm, do excelente e também judeu Larry David.

Outras histórias dignas de nota são 'A feiticeira' e 'Sam Palka e David Vishkover'.

Se as histórias (supostamente) autobiográficas são reais, o Sr. Singer era um grande pegador, mesmo que já avançado em idade. Vai saber...


segunda-feira, 17 de junho de 2013

O Silêncio do Túmulo

Depois de ler Stieg Larsson, abri os olhos (e a estante) para os autores nórdicos. A mais nova descoberta foi o autor Arnaldur Indriðason (Não faço idéia de como se pronuncia, então vai Indridason mesmo).

Islandês de Reykjavik, Arnaldur é graduado em história, trabalhou como jornalista, escritor freelancer e foi crítico de cinema até 2001.

Seu primeiro livro, que também é o primeiro com o detetive Erlendur, Synir duftsins ou Filhos do Pó, que não ainda tem tradução para o português, foi publicado em 1997. Com A Cidade dos Vidros ele ganhou seu primeiro Glass Key Award e com O Silêncio do Túmulo ele ganhou um Glass Key e um Gold Dagger Award.

O Silêncio... foi minha porta de entrada ao frio mundo de Arnaldur.

Um esqueleto é encontrado em um canteiro de obras em um subúrbio da capital islandesa. Quase de pé, o que sugere que a pessoa tenha sido enterrada viva, é o estopim para acender a trama. Quem foi enterrado ali? Porque? Por quem?

Com diversas possíveis vítimas e quase nenhum suspeito, o detetive Erlendur e sua equipe se envolvem nessa ingrata missão, para desvendar um crime do passado, do qual provavelmente nenhum dos envolvidos esteja vivo.

Diferentemente do detetive de Lars Kepler, Erlendur é muito bem caracterizado, com seus dramas e dúvidas pesando a cada passo, de uma forma que faz o leitor se importar com o protagonista, o que definitivamente não acontece com Joona Linna.

Com uma trama engenhosa, entrecruzando duas linhas de tempo, O Silêncio do Túmulo é diversão garantida, conseguindo prender a atenção de forma permanente. Um verdadeiro pageturner.

O próximo livro dele à ir para a estante será a Cidade dos Vidros. Só resta saber quando. Isso faz parte do suspense.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Lendo no ônibus



Esse sou eu.
Vocês não tem idéia do sofrimento que é fazer uma viagem de ônibus sem um livro à mão.

Achado na página do Lombadas Sebo Virtual.
Vou ver se compro algo lá.

domingo, 2 de junho de 2013

Sebos na Tiradentes e arredores

Rio. Praça Tiradentes. Um monte de livros em volta. E claro, diversão garantida e muitas dúvidas sobre o que levar e o que deixar por lá.

Resultado do saque.

Livraria Marins. Sebo simpático, com cara de biblioteca de escola. Arrumadinho e bem limpo. Achei muitas coisas lá. A Fábula, do Faulkner, que deixei lá por conta da capa descolando. E o Infância de Gorki, que deixei lá não sei porque.

Lá vi uma biografia do Sartre, um calhamaço bem caro (70 reais), que lá ficou e uma coleção de 8 volumes do Alexandre Dumas, de 1967 por 700 reais que a menos que aconteça algo muito fora do comum, não virá para a minha biblioteca.

De lá trouxe Almas Mortas de Tolstói e um livrinho do Garfield de 1981, coisa linda, para o Attila. Tinha muito mais coisas, mas o tempo era curto. Merda.

O outro foi o Academia do Saber, na rua Luiz de Camões. Tem outro na Constituição e mais um na Avenida Passos.

Logo que você chega, é saudado por uma muralha de Westeros. Só que ela não é feita de gelo. Não sei porque está lá, mas aquela pilha tem fácil uns 3000 livros.

Fora o resto, todas as paredes lotadas, as estantes menores no meio do salão. E o segundo andar. Ali sim temos livros. Atrás das transbordantes prateleiras, temos livros empilhados horizontalmente. Uma farra.

Lá eu fiz um massacre nos livros do Isaac Bashevis Singer. Só sobrou lá o ótimo Breve Sexta-Feira, que tenho e já li. Também , com 20% de desconto na compra de 5 livros à vista ou no débito, ficou sussa. Além deles, trouxe o Homem que via o trem passar, do Georges Simenon, que já estava querendo há algum tempo.

Muito legal, mas demanda tempo ficar garimpando entre aquelas relíquias.

Sei que existem duas desgraças para o homem. Uma é aquela do Faulkner, que a única coisa que o homem pode fazer 8 horas por dia é trabalhar. E a outra é do Frank Zappa, do "so many books, so little time".

segunda-feira, 20 de maio de 2013

No soup for you, Kindle!

Por incrível que pareça, Stephen King, um dos pioneiros do livro digital, anunciou um apoio inusitado à venda de livros físicos e livrarias.

Foto por Penguino
Ele, que há 13 anos atrás vendeu em apenas 24 horas 400000 e-books da novela Riding the Bullet e subiu ao palco com Jeff Bezos para apresentar o Kindle 2, informou que seu novo livro Joyland não terá versão digital.

Entretanto parece que isso não vai ajudar muito as livrarias: o livro qua vai sair em 4 de junho já está em pré-venda na Amazon.

Seu próximo lançamento será o esperado Doctor Sleep, um prequel para o excelente O Iluminado, de 1977, que sairá em 24 de setembro nos States.

Para esse, não sabe ainda se haverá uma versão digital, o que é bem provável.

domingo, 19 de maio de 2013

O Faulkner de Bolso

Finalmente, chegou!


Com uma pequena espera de 2 semanas e poucos dias, diretamente dos States, chega o magnífico, inenarrável, crocante, alcoólico The Portable Faulkner!

O livro, bem, o livro está ok, mas a edição...

Acostumado com o padrão de qualidade Penguin-Companhia, papel pólen da Suzano, aquela coisa toda, PQP, nunca em todos os anos nessa indústria vital, comprei uma edição com um papel tão ruim. A capa parece impressa na minha inkjet de 5 anos atrás. Eles deveriam avisar que vinha em edição pulpback.

Ao que parece, após umas 3 leituras já vai dar para vendê-lo como relíquia de algum afundamento de navio.

O preço de capa é de 20 dólares. Eu paguei bem menos. Sem entrar em detalhes de custo de produção, câmbio, etc., fiquei pensando se livro vende pouco no Brasil porque é caro mesmo, ou é porque os possíveis leitores preferem ficar no Facebook ou gastar tudo em cerveja mesmo. Já comprei livros excelentes aqui mesmo, com material muito melhor por bem menos que isso.

Como não canso de falar, e escrever, Faulkner é, de longe o meu autor favorito, seguido de perto por Isaac Bashevis Singer e não tão de perto por Aldous Huxley.

Com uma introdução que esclarece aspectos importantes da vida e obra do autor e uma nota encabeçando cada seção, o livro tenta dar ordem cronológica e um sentido ao labirinto faulkneriano. Como no trecho abaixo, onde o editor dá uma possível explicação à dificuldade que sentimos ao ler seus livros.

Like Hawthorne, Faulkner is a solitary worker by choice, and he has done greats things not only with the double the pains to himself that they might have cost if produced in more genial circumstances, but sometimes also with double the pains to the reader.

Pode ser um ótimo aliado para o desbravamento da obra de Faulkner. Mas não leia o capítulo Dilsey antes de ler O Som e a Fúria. Ele é o capítulo final do livro e um grande spoiler.

domingo, 5 de maio de 2013

Uma nova Grey no mercado literário

A esfuziante Sasha Grey não para de surpreender.

Aos 25 anos e depois de 5 na indústria pornográfica, com a invejável(?) participação em 271 produções, o que dá (e como dá) cerca de 1 filme por semana (sem férias), dirigir 3 deles, ler para crianças em uma escola infantil e gerar protestos das mães invejosas conservadoras, participar da série Entourage, 12 filmes mainstream e um photo-book, agora ela chega com uma nova surpresa, a novela erótica The Juliette Society, sobre a entrada de uma mulher em um sex-club exclusivo e altamente secreto.

Nessa foto ela está vestida.
Diferentemente de EL James (ou não), ela participou ativamente (e passivamente) da cena BDSM. Com um currículo bem diversificado, tem 65 indicações e 14 prêmios do cinema(?) adulto pelas suas performances nada convencionais. Ou seja, seus personagens podem ser tudo, menos pouco embasados. Além disso, ela domina (esse é o termo) todas as expertises relacionadas ao assunto, inclusive o toilet licking(quem quiser procura no Google, mas eu não aconselho).

Em tempo, Hollywood já comprou os direitos 

A capa é discreta.


Bom, eu não vou ler, mas quem quiser me contar e até dar alguns spoilers, fique à vontade.

O certo é que, se a carreira literária dela for tão prolífica quanto a anterior, então teremos um novo Georges Simenon, sendo que ela também pode se gabar de ter se deitado com 10.000 pessoas diferentes.


sábado, 27 de abril de 2013

Bill 'Nice Guy' Faulkner

Não tem pra ninguém. De todos, TODOS os escritores vivos e mortos, do passado ou futuro, o meu favorito é o velhinho bonachão aí ao lado. Bonachão é meio que forçar a barra, visto que seus vizinhos em Oxford o achavam esnobe e pretencioso, mas está valendo, o cara ganhou um Nobel, for real, sem aquele lance que rolou com o Steinbeck. Olha a frase dele, que mimo, sobre a perda do emprego que tinha nos Correios.
I reckon I'll be at the beck and call of folks with money all my life, but thank God I won't ever again have to be at the beck and call of every son of a bitch who's got two cents to buy a stamp. 




domingo, 21 de abril de 2013

Timeline da palavra impressa

De todas as artes, a literatura é, sem desmerecimentos, a de execução mais barata. Vejam o que disse Faulkner à Paris Review sobre isso:
Segundo minha própria experiência, as ferramentas de que preciso para o meu negócio são papel, fumo, comida e um pouco de uísque.

Com apenas isso ele ganhou um Nobel. Hemingway também ganhou um Nobel com mais ou menos isso aí. A única coisa que ele precisava à mais eram alguns animais selvagens e armas de fogo para matá-los. Cada autor tem suas necessidades, mas vários escreveram obras-primas a beira do desespero e da inanição.

Outras artes dependem de tintas, pincéis, telas, mármore, palcos, platéia, instrumentos musicais, amplificadores, películas em 35mm, cenários, péssimos atores ganhando cachês milionários, extras, de forma que o Ars gratia Artis fica meio prejudicado com todos esses requisitos.

Nada impede de que alguém consiga fazer cinema por conta própria. Clerks está aí para provar, mas...

O fato é: Temos literatura acessível porque temos papel, tinta e máquinas para juntá-los de forma barata e eficiente. Sem isso, estaríamos ainda nas mãos dos monges copistas, que não deixariam a gente ler Nietzsche. Nem Sartre, Kazantzakis, Anatole France, Balzac, Zola e nem um monte de outros ótimos autores.

Você pode dizer que papel é coisa do passado, mas não teríamos livros digitais, da mesma forma que não haveria cinema 3D se não existisse cinema.

Fuçando no reddit, achei essa timeline da história da impressão, que mostra como a tecnologia veio evoluindo desde os carimbos chineses de madeira até as atuais impressoras 3D. Muito interessante e vale uma olhada.

sábado, 20 de abril de 2013

O cara que serviu o rei

contei como consegui 'Eu servi o Rei da Inglaterra'. Só comprei porque tinha esse selo de qualidade:
Uma das encarnações mais autênticas da magia de Praga, numa união extraordinária de imaginação barroca e humor franco, direto.
Milan Kundera

Eu servi o Rei da Inglaterra? Pode comprar! 

A tragicômica vida de Ditie, um ajudante de garçom que tinha tudo para não chegar a lugar nenhum mas chega a ser dono de um hotel e rejeitar uma oferta irrecusável de John Steinbeck, é contada nos longos parágrafos de Bohumil Hrabal, que conseguiu escrever dois livros inteiros com uma frase cada(Esse e esse).

Arrivista, Ditie abraça todas as oportunidades de ganhar dinheiro, seja para gastar com prostitutas, cujos encontros no bordel Paraíso tem descrições bem cruas dos detalhes, seja para espalhá-lo no chão do quarto, imitando um hóspede do hotel.

Como um Thomas Sutpen da Bohemia, Ditie faz tudo para conseguir a respeitabilidade. Junta mais e mais dinheiro para comprá-la. Não consegue.

Com a cabeça na Lua, cobrindo o chão com notas de cem coroas e aprende avidamente com seu mestre, que sabe tudo, pois serviu o Rei da Inglaterra. Ditie tem bons dias, até que consegue servir o Rei da Etiópia(a respeitabilidade, enfim) e ganha uma medalha e perde o mestre.(Como podem ver, ele não conseguiu de novo.)

Aprende alemão, e estranhamente, é o único do restaurante que os atende. Sua pobre namorada alemã, Lise, come sopa fria e os garçons enfiam o dedo em sua comida. Porque será, pensa Ditie. Ah, claro, a Tchecoslováquia está sob ocupação nazista.

Se casa com Lise, que se torna instrutora de ginástica nazista, para ser considerado como um igual pelos alemães e mostrar aos tchecos do que era capaz.

Não consegue. Invejado e ignorado pelos alemães, não necessariamente nessa ordem, porque ele tinha se casado com uma alemã, continua sua vidinha. Os tchecos tampouco iam com seus cornos, já que ele tinha se casado com uma alemã, de modo que ele não valia muito mais que meio salame.

Após vários percalços, compra um hotel para conseguir a respeitabilidade tão sonhada. Não consegue. Seus antigos patrões o ignoram solenemente, devido ao seu passado colaboracionista, e por inveja também. E a vidinha mais ou menos continua mais ou menos da mesma forma.

O livro vai num clima de quase pornochanchada, cheia de alegria e fluidos, nos primeiros capítulos, descambando para um drama bem desgraceira(bem no estilo Dostoiévski), até uma reflexão existencialista no último capítulo que me lembrou muito Camus(Sem pedras, por favor).

Uns trechos para empolgar, ou desistir de vez:

O gordo sorriu olhando para a máquina e disse: A maior empresa do mundo é a Igreja católica, que faz comércio com algo que homem algum jamais viu, homem algum jamais tocou e que homem algum jamais encontrou, desde que o mundo é mundo, e essa coisa se chama Deus.

Aqui, no Hotel Tichota, também aprendi que quem inventou que o trabalho enobrece foram as mesmas pessoas que bebiam e comiam a noite inteira com belas mulheres no colo, os ricos, que podiam ser felizes como criancinhas.

sábado, 13 de abril de 2013

Suave é a noite, dura é a decepção

Terminei há pouco Suave é a noite, do Fitzgerald. Sensacional. Com um título baseado em um dos versos de Ode to a Nightingale do Keats. (Não, não li nem lerei Keats, estava citado no livro.)

Fitzgerald nos brinda (e como brinda) com um drama denso com traços fortemente autobiográficos: uma mulher esquizofrênica, amigos inúteis, um casamento conturbado, uma carreira abandonada pela metade, festas enfadonhas e uma atriz que se torna uma amante, tudo isso acompanhado por garrafas e mais garrafas de gin, clarete e vin du pays.

O livro é dividido em 3 partes, com um estilo narrativo tão diferente, que nem parece o mesmo autor.

Na primeira parte, temos a apresentação dos Diver (que nem mergulham tanto assim) e seu pequeno sistema diveano de tipinhos inúteis, orbitando Dick: os North, os McKisco e Tommy Barban. Recém-chegada ao grupo, temos a jovem estrela Rosemary Hoyt, que se oferece à Dick, causando certo desconforto em Nicole Diver.

Achei essa parte um saco, tanto que twitei que estava na página 110 e não estava nem aí para os personagens. Na realidade usei outras palavras, mas deixa pra lá. O único personagem mais um pouco aprofundado nessa parte é a insossa Rosemary, com aquela fixação desgraçada em sua mãe e aquele chove não molha com Dick.

Já a segunda parte, onde os personagens são realmente apresentados, é bem melhor. Nela é narrado o início de carreira de Dick Diver, como ele conheceu Nicole e onde isso tudo foi parar. O alcoolismo já começa a se apresentar e o relacionamento dos Diver já está ladeira abaixo.

Na terceira, temos a derrocada e a grande decepção. Estático, Dick vê sua vida, esse frágil castelo de cartas, desabar em um fragoroso silêncio.



quarta-feira, 10 de abril de 2013

Sábado com John Bookworm

Ao contrário do usual, fui à rua. Isso não tem dado muito certo. Já saio o suficiente durante a semana. Desci do ônibus, atravessei  a rua. "Por que não passamos na Flamingo? Só pra olhar." John Bookworm. Ferrou, pensei. Perto demais. Devia ter dado a volta no quarteirão, o cheiro de papel vai longe.

Pra quê? Ainda tenho livros para duas semanas. Leio devagar, até lá penso no que vou querer. Estava pensando em alguma coisa do Faulkner, tipo 'Os Invencidos' ou Sartre... "E arriscar? Lembra daquele fim de semana em que você ficou sem nenhum livro?"

Mas não era só pra olhar? Que papo é esse? "Claro que é só pra olhar. Mas..."

John Bookworm é a contraparte literária do John Barleycorn. Em vez de te encher de cachaça e largar na sarjeta mais próxima vomitando as tripas, ele lota suas prateleiras de livros e te larga sem dinheiro para comer. É ele que faz os seus pés se dirigirem automaticamente para a livraria mais próxima, por mais que você esteja com fome e o churrasco de gato da esquina esteja com um cheiro bom dos infernos. Ele já me fez gastar 3 dos meus últimos 5 reais no livro "A Máquina Fantástica".

Ele inspirou aquela frase muito maneira do Erasmo de Rotterdam, e preside a todos os tsundoku cometidos pelo mundo afora. Tsundoku é uma espécie de seppuku, só que em vez da barriga com uma faca, você abre um rombo no orçamento.

Quando tenho pouco dinheiro, compro livros. Quando tenho um pouco mais, compro comida e roupas.
Erasmo de Rotterdam

Vencido pelos argumentos sólidos de Bookworm fui a livraria. Só pra olhar. Mas chegando lá, achei dois volumes. Catástrofes (nem tanto) naturais, da Patrícia "Ripley" Highsmith e Eu servi o Rei da Inglaterra de Bohumil(?) Hrabal(???).

"Catástrofes..." são 10 contos que ocorrem fora do policial noir, habitat de Highsmith. Se focando nos crimes sociais, são respingantemente recheados do humor negro da minha escritora favorita.

Já "Eu servi..." conta a história de um nanico ajudante de garçom de baixa estatura que através de diversos percalços e um casamento com uma professora nazista de ginástica, chega a ser dono de um hotel de luxo. Pra falar a verdade, comprei mesmo porque tinha uma recomendação do Milan Kundera. E porque John Bookworm insistiu muito.

Voltei pra casa, feliz e com a carteira um pouco mais leve.

domingo, 31 de março de 2013

O Pesadelo

Apesar de tudo que eu disse aqui, o livro é surpreendentemente bom. Não vou dizer "Nossa, que primor de literatura, me fez esquecer Absalão, Absalão.", mas vale o tempo e o dinheiro gasto.

Não vou copiar aqui a sinopse do livro, mas essa frase copiada da resenha da Time Magazine "Lars Kepler parece falar diretamente aos lugares mais obscuros da alma humana." me fez pensar "Beleza! Mais um Chuck Palahniuk!" Só que não. Não sei de onde eles tiraram essa ideia.

Eles (o Lars) dão uma copiada no estilo de Stieg Larsson, só que com capítulos curtíssimos, o que me agradou muito, embora os mesmos sejam claramente cortados no formato ideal para serem transpostos para planos-sequência de um filme. O Hipnotista já foi para as telas e esse não deve demorar nada, pelo visto.

A narrativa é envolvente, e com um bom ritmo, que me fez quase perder o ponto por algumas vezes (Eu leio muito no ônibus.).

Um problema que notei foi a profundidade dos personagens. Quando achei que aqueles conflitos de Linna iam ser explicados, nada disso, continuamos a seguir a câmera por cima do ombro dele. Enquanto isso, personagens secundários, são esmiuçados, trazendo à tona suas motivações e neuroses.
Não sei se deveria ter lido o Hipnotista antes, mas como o livro não vinha com pré-requisitos, acho que é defeito mesmo.

O Pesadelo vale a leitura, mas tenho dúvidas se vou querer ler o Hipnotista ou alguma sequência da série.

Tem um comentário sobre o final do livro logo abaixo, mas só para quem já leu o livro. Ia usar o link Leia Mais, mas o editor do Blogger está de sacanagem com a minha cara e isso agora não funciona. Para ler, selecione o texto abaixo.
O epílogo estragou um pouco a experiência. Entendo perfeitamente que os autores (o Lars) quiseram dar um final cínico ao livro, do tipo "não adiantar enfrentar o sistema, você mata um bandido e tem trinta para pegar a vaga", mas o menino assustado assumir o lugar do Raphael "Motherfucker from Hell" Guidi foi forçar a amizade.

Mas vá lá, tirando isso, o livro é entretenimento garantido.

sábado, 30 de março de 2013

Novas cachaças na prateleira

Anunciei ontem no Twitter que ia sair cedo para comprar cachaça, e fui.
Após uma boa busca no bar sebo Flamingo, na rua São João, com direito a cafezinho na xícara e tudo mais, achei duas garrafas da melhor qualidade.

Garrafas da boa
Legal, temos a história de Pantaleón, um capitão do exército peruano que faz a gestão de um grupo de putas "visitadoras", para acalmar os instintos das tropas na região do Amazonas.

A outra garrafa (de bitter, ao que parece) temos a história de Dick Diver, um brilhante psiquiatra, cuja carreira chega ao fim, com o seu casamento com uma de suas pacientes.

Pena não saber a data da safra, que pra mim é muito importante, graças ao feio hábito do Círculo do Livro de não datar seus volumes. O outro, edição da Globo, teve a folha de rosto arrancada.

Esses devem durar umas duas semanas. Só resta saber qual vou beber primeiro.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Momento deixa pra lá

Uma vez, James Joyce foi abordado por um jovem quando andava pelas ruas de Zurique.
- Posso beijar a mão que escreveu Ulysses?
- Não - respondeu Joyce - Essa mão fez muitas outras coisas também.


terça-feira, 19 de março de 2013

O Pesadelo: Primeiras Impressões

Esse eu comprei pela capa. A capa laranja, uma faca, algumas chamas. Boa capa. Laranja, laranja, porque me atraiu tanto? Ah, tá bom, um sucedâneo meio suecado para isso aqui.


Vi no site, cliquei e comprei. As compras por impulso nunca foram tão devastadoras. Se fosse na livraria eu ficaria alisando o livro por uma longa meia hora, tipo o John Smith e ia acabar comprando na semana que vem. Mas vamos lá, já foi debitado no cartão e só resta esperar chegar.

Chegou. Dando aquela geral marota no volume, capa, orelhas, miolo. Olha que casal simpático aqui na orelha direita. A Carol(adoro seus textos), gosta de fotos de autores, eu não. Imagino os autores como entidades etéreas sem forma. Mentira, eu não gosto é de fotos, da mesma forma que não gosto de entrevistas com os meus músicos favoritos. Tinha um guitarrista que era o máximo, mas um schmuck tão dedicado, que eu parei de gostar do som dele.

Voltando à foto, os dois parecem saídos de um disco pop da década de 80. Photoshop, muita maquiagem e produção, aquela coisa toda. Legal, então esse é o Lars. Não? Os dois são o Lars!

Na hora senti como se tivesse lido todo o cânone faulkneriano, junto com The Portable Faulkner para depois descobrir que Luz em Agosto, Absalão, Absalão e O Som e a Fúria tinham sido escritos por um ghost-writer. Ou então que Nora Barnacle escreveu o monólogo da Molly em Ulysses.

Babaquice minha? Talvez, afinal o ser humano é o único animal que sabe ser babaca, e bem.

De qualquer forma, minha boca amargou um pouquinho com essa surpresa. Já vou ler O Pesadelo com um pé atrás.

Estou no capítulo 4. A narrativa é bem no estilo do Stieg Larsson, bem no estilo MESMO, chega a incomodar um pouco. Depois vim a descobrir que o Lars é uma homenagem para o Stieg. Uma homenagem à moda Tarantino, pelo visto.

Agora é acabar de ler e torcer para que meus preconceitos sejam infundados. Mas uma coisa é certa. O livro vai ter de ser muito bom para tirar esse ranço, causado por uma mísera foto na orelha do livro.

Eu conto depois.



sábado, 16 de março de 2013

Citação: John Barleycorn

Oh! - e falo com o conhecimento ulteriormente adquirido - que o Céu me defenda da maioria da média dos homens que não são uns camaradões, desses que possuem corações frios e cérebros frios, que não fumam, não bebem nem praguejam, nem fazem nada que seja ousado, vingativo ou contundente, porque suas fibras fracas não foram estimuladas pelo aguilhão da vida para além dos quais se encontra um mundo de feitos diabólicos e audaciosos. Gente desta nunca se encontra nos botequins, nem aliadas a causas perdidas, nem flamejando nos trilhos da aventura, nem amando loucamente. São sujeitos demasiado ocupados em manter os pés quentes, em vigiar as pulsações do coração, em obter êxitos da vida com a mediocridade dos seus espíritos.

Após esse parágrafo, só posso dizer uma coisa:
- Jack, me desculpe, mas vai escrever bem assim na puta que o pariu. Com todo o respeito.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Nova aquisição: John Barleycorn

Depois de 3, eu disse três, TRÊS dias de penúria, sem um livro novo para ler, lendo até panfleto de <insira aqui a religião/partido político/filosofia barata que você abomina>, chega John Barleycorn.

Obra autobiográfica de Jack London, relata seus embates com John Barleycorn, a personificação do vício alcoólico. O primeiro dos quais aos cinco anos, levando um latão de cerveja para seu pai, que resolveu provar, e bebeu metade da lata.

Vicío esse que o matou, prematuramente, com apenas 40 anos de idade, mas com uma quilometragem invejável.

Olha ele aí.
Na oitava página eu já tinha sido fisgado. E não é pra menos:

É a sanção que o homem imaginativo tem de sofrer pela sua amizade com John Barleycorn. A sanção sofrida pelo homem branco é mais simples, mais fácil. Ele bebe até ficar num estado inconsciente de embrutecimento alcoólico. Dorme um sono drogado, e, se sonha, os seus sonhos são confusos e inarticulados. Mas ao homem imaginativo, John Barleycorn oferece os silogismos implacáveis e espectrais da lógica pura. Ele contempla a vida e todos os seus aspectos com os olhos biliosos de um filósofo pessimista alemão.


O meu exemplar foi editado em Portugal em 1975, pela Livraria Civilização - Editora.

Está super novo, com apenas alguns desgastes mínimos na capa, considerando-se a idade do livro. Muita sorte. Agora só falta acabar de ler.

segunda-feira, 11 de março de 2013

A Zona Morta e crises de abstinência

Não sei vocês, mas a falta de livros novos me causam sintomas bem parecidos aos de abstinência de outras substâncias alucinógenas. Irritabilidade em ônibus é uma delas.

Agora há pouco terminei o empolgante A Zona Morta do Stephen King. Ele conta a história de John Smith, o José da Silva dos USA, que após uma pancada na cabeça, um episódio de blue balls devido a um cachorro-quente estragado e uma batida de carro que lhe rendeu um coma de 55 meses, acorda com a capacidade de "ler" os objetos e pessoas, extraindo informações, vendo o passado e prevendo o futuro, não sem diversos efeitos colaterais.

Sendo visto como um santo, profeta, charlatão e embusteiro, não necessariamente nessa ordem, Smith tenta levar a vida da melhor forma possível. Se for contar mais teremos spoiler.

Um livro divertido(Sim, eu consigo dar risadas vendo dramas do Ingmar Bergman), sem grandes pretensões literárias, sendo acessível para qualquer novato que não tenha medinho de encarar suas 600 e tantas páginas na edição de bolso da Objetiva(Não, eles ainda não estão me pagando).

Voltando ao assunto do post: Graças à falta de um livro novo, a viagem de ônibus até o trabalho nunca foi tão longa. Na realidade seria bem mais longa se alguém tivesse tentado falar comigo.(Odeio freetalkers em ônibus, e em qualquer outro lugar. Porque estou parado em algum lugar não é sinal de que eu queira conversar ou conhecer pessoas novas.)

Foi realmente complicado ter de ver TUDO o que estava acontecendo dentro, fora do ônibus, pensar no que tinha de fazer durante o dia, lembrar que esqueci de fazer algo ontem, já era, agora é tarde. E as coisas passando do lado de fora da janela. E eu não querendo vê-las.

Acho que se possível fosse canalizar todo o fluxo de consciência passado nessa viagenzinha de meia hora, dava pra escrever Ulysses II. Tudo culpa de um CEP errado, que atrasou a entrega do livro e furou toda a logística da minha estante.

Agora, deixa eu ir nessa, porque continuo sem livros novos e amanhã tem Ulysses III.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Capa chique para Fahrenheit 451

Para esse leitor, capas são um atrativo à parte nos livros. Desculpem os pós-modernistas, mas tem certas capas que não ficam legais na telinha e-ink do Kindle muito menos na LED do tablet.

Exemplo:

Desculpe qualquer coisa.

A formidável capa tem um palito de fósforo incorporado (451°F, temperatura em que o papel acende, saca?), que pode ser riscado na lombada do livro.

Fala sério! Quem não tinha pensado nisso antes? Eu e todo o resto do mundo, menos a Elizabeth Perez, que fez essa sacanagem de não vender essa capa para uma editora brasileira.

Em tempo: Fahrenheit 451 é uma distopia das mais apavorantes, onde os bombeiros, por não ter mais fogo para apagar e gatinhos para descer das árvores, passaram a queimar livros e as casas que os continham.

Guy Montag, o protagonista, começa a ter crises de consciência quando algo acontece em uma das casas que ele iria incendiar. Daí é ladeira abaixo: Começa a se relacionar com uma garota estranha, a ler na miúda e a recriminar os hábitos estranhamente modernos e atuais de sua imbecil esposa de assistir as telas o dia todo e nunca tirar os fones de ouvido.

O livro já é ótimo, com uma capa dessas então nem se fala.


domingo, 3 de março de 2013

Todos os drinks de Hemingway

A literatura sempre foi pródiga em cachaceiros pessoas com problemas com o álcool.

Não sei ao certo se o vício motiva o talento, ou o talento motiva o vício. Sou mais simpático à segunda opção, pois aceitando a primeira já tenho uma contra-prova com um conhecido. Ele sai do trabalho às 17:00 e às 17:15 está em delirium tremens. E até agora ele não publicou nenhum livro.

Temos uma longa lista de literatos, que além das garrafas, enxugam nossas contas bancárias nos fazendo gastar dinheiro com seus livros. Alguns falaram abertamente sobre o alcoolismo, como Jack London, em John Barleycorn, e outros falaram através de seus etílicos personagens; Hemingway, em qualquer uma de suas obras.

Bukowski, o velho e safado Buk, falava sobre o álcool de uma maneira geral, mas não tão como vício e sim como mais um dos aspectos de sua conturbada vida.

Drinking is an emotional thing. It joggles you out of the standardism of everyday life, out of everything being the same. It yanks you out of your body and your mind and throws you against the wall. I have the feeling that drinking is a form of suicide where you're allowed to return to life and begin all over the next day. It's like killing yourself, and then you're reborn. I guess I've lived about ten or fifteen thousand lives now.

Além dos já citados amantes dos derivados etílicos, Raymond Chandler, William Faulkner, Scott Fitzgerald, Jack Kerouac, Dylan Thomas, Edgar Allan Poe, James Joyce e outros tiveram a vida abreviada ou na melhor das hipóteses, deteriorada pelo vício.

Mas nenhum deles teve o álcool como personagem em tantos de seus romances como o Papa. Tão grande foi essa influência, que existe um blog, chamado Drink like Hemingway, cujo alvo é descrever, preparar e resenhar todos os drinks bebidos pelos inúmeros personagens da obra de Hemingway. O que não é pouca coisa.

Ainda está em processo, já que são muitas bebidas e o cara quer chegar com o fígado no lugar ao final da jornada.

A lista com todos os drinks está aqui. Vale a visita.



sábado, 2 de março de 2013

30 frases de Dr. Seuss

Nunca dei muita confiança para a obra de Dr. Seuss. Grinch, Lorax, Horton e o Mundo dos Quem... Não li nada disso.

Mas, hoje topei com esse apanhado de frases dele, que são bem legais e fazem pensar, embora eu continue detestando auto-ajuda.

A propósito, minha favorita é a n° 15.


Via Mamiverse.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Sebos e saldos

Andando pela rua, resolvi passar no simpático Sebo Flamingo, na Rua São João em Volta Redonda. Com pouco dinheiro, fiquei olhando a banca de saldos.

Imaginem o que achei. A Máquina Fantástica, de Adolfo Bioy Casares, por R$2,00. DOIS REAIS. Em capa dura, do Círculo do Livro. Também vi o Risíveis Amores, do Milan Kundera por R$3,00, mas que estava meio baleado [UPDATE 26/10/2013 - Comprei lá mesmo um novinho por R$5,00 - Go, Flamingo!] . Paguei e fui embora, lépido e fagueiro.

Nesse momento lembrei dessa frase.



domingo, 17 de fevereiro de 2013

Benvindos à realidade

Uma vez assisti ao "Minha Vida é um Inferno", um interessante filme b-, com uma relacão bem tênue com os livros.

O personagem principal, vivido por Steve Oedekerk, é um frustrado autor de livros infantis, que odeia escrever histórias do Molusco Feliz, mas é obrigado pela editora.

Ele prefere escrever histórias mais práticas e ligadas ao cotidiano da criançada, tais como "Mamãe, quem é meu papai?", com a sugestiva capa em que um garoto olha inquisitivamente para sua mãe, enquanto aponta para o carteiro, e "Como fazer ligação direta no carro", que segundo ele seria útil se a mãe de alguma criança passasse mal.
Achei que tais coisas não seriam possíveis, mas me enganei.
Olhe que legal esse livro, e tem na Amazon.

Seus pais não vivem mais juntos? Que barra, hein?


E tem um bem mais hardcore.

É mano, a casa caiu.

Pra que fantasia e mundos coloridos e bonitinhos? Nah, a realidade é bem mais divertida.

Para ver mais, clique aqui.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Citação: Milan Kundera

Em dois episódios de insônia durante o carnaval, devorei dois terços do ótimo 'A Insustentável Leveza do Ser', de Milan Kundera.

Na página 14, li um parágrafo que valeu cada centavo gasto no livro.

Não existe meio de verificar qual é a decisão acertada, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida é a própria vida? É isso que leva a vida a parecer sempre um esboço. No entanto, nem mesmo esboço é a palavra certa, pois um esboço é sempre o projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que a vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro.

Uma coisa interessante sobre esse livro é que o autor afirma em um capítulo que os personagens são apenas personagens, sem existência própria, nascidos não de um ventre materno, mas sim de algumas palavras ou situações-chave. Como exemplo, cita Tomas, o protagonista, que nasceu da expressão alemã einmal ist keinmal que significa uma vez é nunca.

A princípio isso pode parecer um detalhe banal, mas funciona como uma quebra da quarta parede, bem parecido com o recurso usado por Woody Allen em Whatever Works, quando Boris Yellnikoff, vivido magistralmente por Larry David, fala diretamente para a câmera, explicando alguns de seus pontos de vista.

Um excelente livro, que estou a um terço do fim e já lamentando.

A vida de um leitor em série é mesmo complicada. Se o livro é meia-boca, sofremos para acabar. E se é ótimo, sofremos porque acabou.
E tome ressaca literária.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Para animar a ler Ulysses

Li Dublinenses. E gostei mais ou menos. James Joyce não é pra mim, pensei. Até que vi em um site uma promoção imperdível da nova edição do livro, pela Penguin-Companhia das Letras. Barato mesmo, não pagava o papel. Porque não comprar? Muitas páginas? Já li Guerra e Paz. Muito complexo? Li O Som e a Fúria. Muitos personagens? Irmãos Karamazov já li faz tempo.

Pesquisei, pesquisei e achei esse vídeo do André Conti falando exatamente dessa nova tradução de Ulysses.



Quando vi o editor falando que aquele livro, de capa verde, parecendo ter alguns quilos, narrava UM dia na vida de um irlandês de Dublin e se baseava no fato em que esse dia na vida de uma pessoa comum poderia ter tantas aventuras quanto a Odisséia inteira, decidi. Eu TENHO de ler isso.

Alguns disseram que deveria ser chato, tantas páginas em um só dia de vida. como assim, ele deve descrever quantos e quais os fios de cabelos sacudidos pelo vento ou arrumados pelo pente, entre outras coisas tão sem graça e necessidade de narração ou da menor atenção.

Azar, vou ler mesmo, dinheiro é meu, tempo também, acessei o site novamente, a oferta estava valendo, alguns cliques e o livro estava a caminho da minha estante.

Li Ulysses. Acho que em dois meses, entre a casa e o trabalho, e alguns poucos intervalos nos fins de semana. Gostei muito. Tem partes chatas? Sim, afinal o livro é como se tivessem ligado um plug na saída serial do cérebro de Leopold Bloom e registrado tudo, sem edição. Quem não tem em um dia tem bons ou maus quartos de hora de puro ócio tedioso, tédio odioso ou ódio ocioso?

O capítulo final é um espetáculo à parte, com 69 páginas sem pontuação e parágrafos apenas sugeridos, com Molly Bloom em monólogo interno que abrange vários assuntos, inclusive tentando adivinhar os reais motivos de Leopold ter beijado sua bunda e algumas rimazinhas infames, como essa:

faça chuva ou faça sol, peide sempre em si bemol

A maravilhosa aventura desse dublinense por seu atribulado dia vale a pena. Leiam, leiam.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Agora a briga ficou boa

As empresas estão se reposicionando no mercado nacional de ebooks.

Chegou pelo twitter oficial da Livraria Cultura a notícia de que foram lançados no Brasil o KoboGlo, que permite ler no escuro e o KoboMini, que tem um preço praticamente igual ao do Kindle, graças à sua tela menor e a não existência de um slot para cartão SD.

A briga pelo mercado promissor(?) de ebooks no Brasil está esquentando. Vamos ver quanto tempo a Amazon vai demorar a responder lançando mais modelos do Kindle aqui no Brasil.

Mais detalhes aqui.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Esse Steinbeck...

Há muito tempo, venho me perguntando o que Steinbeck está fazendo ali no meio dos laureados do Nobel de Literatura: Faulkner, Sartre, Hemingway, Sienkiewicz, Camus, Anatole France, Bashevis Singer, Soljenítsin, etc, etc.



Tudo bem, ele escreveu 'As Vinhas da Ira', que é um ótimo livro e 'À Leste do Éden', juntamente com 'O Inverno da Nossa Desesperança', que ainda irei ler, mas que a meu ver não habilita ninguém para um Nobel.

O mais estranho é que Faulkner ganhou dois Pulitzer com alguns dos seus livros considerados mais fracos, Uma Fábula e Os Desgarrados, enquanto Steinbeck ganhou seu Pulitzer com sua maior obra.

Por seus trabalhos realistas e imaginativos que combinam humor, simpatia e percepção social incisiva.
Essa foi a história que a Academia contou, mas pelo visto não bem assim. Justo hoje, lendo as notícias nas interwebs, topo com essa bomba.

Documentos revelam que Steinbeck foi premiado por falta de algo melhor. Entre os finalistas haviam uma oponente morta, um recusado por motivos alheios à literatura, um escritor ainda 'verde', restaram apenas Steinbeck e Robert Graves, que foi preterido por sua obra se limitar à poesia, o que também não era verdade.

Note bem o que ele disse em seu discurso:

Em meu coração pode haver dúvida se eu mereço o Prêmio Nobel, em vez de os outros homens a quem eu respeito e reverencio.

Pelo visto, nem Steinbeck concordava com o prêmio, mas já que eles insistiram...
Recentemente,a Academia Sueca se viu no centro de uma polêmica ao laurear Mo Yan em 2012, acusado de apoiar o regime comunista. Pra mim polêmica mesmo foi ele ter sido comparado pelo porta-voz da Academia como uma mistura de Faulkner, Dickens, Marquez e Rabelais.
Come on! Deixa o Faulkner fora dessa.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Incrível capa para 1984

A Penguin está reeditando alguns livros de George Orwell com um novo projeto gráfico.

Adorei a nova capa de 1984, assinada por David Pearson. Simples ao extremo e diz tudo sobre o livro com quase nada.


Que capa.
Fonte: Reddit